Docentes da
Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (UTFPR) participaram nesta quarta-feira (25) da reunião do grupo de
trabalho em rede para estudo e promoção de ações no âmbito do combate ao uso
irregular de agrotóxicos de Ibiporã e Jataizinho. Eles apresentaram ao comitê
institucional trabalhos acadêmicos referentes ao uso de inseticidas e os
impactos em animais e seres humanos.
A reunião foi
coordenada pela promotora de justiça da
2ª Promotoria de Ibiporã, com atribuições na área ambiental, Révia de Paula
Luna, e contou com a participação de representantes da Prefeitura Municipal de
Ibiporã, por meio da Secretaria Municipal de Agricultura, Abastecimento e Meio
Ambiente, Vigilância Sanitária de Ibiporã e Jataizinho, Instituto Paranaense de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Instituto
Ambiental do Paraná (IAP) e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do
Paraná (Crea).
A professora do Departamento de
Química da UEL, Suzana Lucy Nixdorf, apresentou os estudos que vem realizando
juntamente com acadêmicos do Doutorado sobre a contaminação da água por
agrotóxicos na região de Arapongas. Em seguida, a professora do Departamento de
Ciências Fisiológicas da UEL, Cláudia Martinez, tratou dos efeitos nocivos dos
agrotóxicos na fauna aquática. A reunião foi encerrada com a participação dos
professores do Departamento de Agronomia da UEL, Maurício Ursi Ventura e Ayres
de Oliveira Menezes Júnior, que falaram sobre as possibilidades de trabalho com
o comitê. Eles estudam manejo integrado de pragas e agroecologia.
Segundo a promotora, o comitê paralelo
formado por docentes das universidades é importante para respaldar
cientificamente o trabalho do grupo, até mesmo em prováveis questionamentos
jurídicos. “Por meio desta parceria com as universidades o comitê também
pretende buscar financiamento junto à Fundação Araucária de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná”, acrescentou
Révia.
O comitê
institucional promoveu, ao longo de 2017, o levantamento de informações para
formar diagnóstico do uso de agrotóxicos e definir um plano de trabalho visando
à redução do uso de veneno nas unidades produtivas de Ibiporã e Jataizinho.
Um dos eixos de
trabalho do grupo é a conscientização e educação ambiental. Reuniões com
agricultores, representantes
de assistência técnica e revendas foram realizadas ao longo do ano passado. Nos dois municípios, foram entregues aos participantes
recomendações administrativas elaboradas pelo Ministério Público, com a
contribuição de todos os integrantes da rede, enunciando o dever dos usuários,
comerciantes e profissionais em adotar boas práticas em suas unidades
produtivas e reforçando a proibição de aplicação de veneno na zona urbana e em
suas imediações.
O projeto, que faz parte do Plano
Setorial de Ação das Promotorias de Justiça vem sendo desenvolvido desde
dezembro de 2015, quando foi realizado em Ibiporã o Encontro do Fórum Estadual
- Agrotóxicos, no qual foram abordados os riscos ambientais e sanitários do uso
excessivo de veneno e elaborada carta de intenções de trabalho, cujas
manifestações foram debatidas pelas instituições nas reuniões.
Mercado de agrotóxicos
O impacto causado pelo uso dos
agrotóxicos inclui a contaminação dos alimentos, danos à saúde pública e ao
meio ambiente, tanto no solo como na água que é consumida.
Segundo dados divulgados pelo
Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), entre os
anos de 2000 e 2010 a taxa de crescimento do mercado brasileiro de agrotóxicos
foi de 190% contra 93% do mercado mundial, de modo que o Brasil hoje ocupa o
lugar de maior consumidor de agrotóxicos do planeta.
De acordo com o instituto, as lavouras
paranaenses também estão recebendo um maior volume de veneno, uma vez que,
entre 2008 e 2011, enquanto a área plantada permaneceu estável a quantidade de
agrotóxicos pulverizadas nas unidades produtivas do Estado aumentou em 20,3% e
o consumo total chegou a 96,1 milhões de quilos. Em Ibiporã, de acordo com
dados do Sistema de Monitoramento do Comércio e Uso de Agrotóxicos do Estado do
Paraná (Siagro), fornecidos pela Adapar, foram utilizadas, no município, 300
toneladas de agrotóxicos no ano de 2015 e 273 ton em 2016; sendo que os
herbicidas constituem 55 a 60% deste volume. O município é o maior centro
armazenador de agrotóxicos do Paraná.
Conforme dados do Dossiê Abrasco
(Associação Brasileira de Saúde Coletiva), 70% dos alimentos in natura consumidos
no país estariam contaminados por agrotóxicos; destes, de acordo com a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 28% estariam contaminados por
produtos não autorizados.