Um gesto singelo, mas repleto de significado e aprendizagem. Como propor
uma atividade em homenagem ao Dia dos Pais para uma criança cujo pai já faleceu? Sensibilizada
com a história de sua aluna de apenas quatro anos que perdera o pai havia um, a
educadora infantil Débora Rodrigues, que leciona no Complexo Educacional
Municipal Prefeito Alberto Spiaci, em Ibiporã, sugeriu que a menina
“escrevesse” uma carta para o papai dela, a colocasse dentro de uma bexiga, e a
enviasse aos céus – uma maneira totalmente diferente do habitual de honrar a
memória de um ente querido. “Há cerca de dois meses, pensando em como trabalhar
o Dia dos Pais com a minha turma, me lembrei da Ana Clara, uma aluna muito
amorosa e espontânea, que perdera o pai violentamente há pouco tempo, e sempre se
lembra dele. Tive a ideia de dar asas aos sonhos e esperança dela, recebi o
apoio da direção e de outros colegas da escola e às vésperas da data
propiciamos este momento a ela”, conta a educadora.
O belo gesto foi acompanhado pelos coleguinhas da turma e algumas
professoras. Uma delas gravou um vídeo com o celular. Incentivando a
participação das outras crianças, a professora pede que elas contem até três
para que a menina solte o balão para o pai. Emocionada após o gesto, a menina é
ternamente acolhida pela professora Débora que a beija e abraça.
Ao ser postado em uma rede social, o vídeo viralizou. Recebeu mais de
dois milhões de visualizações, 40 mil compartilhamentos, mais de sete mil
curtidas e milhares de comentários. A maioria deles de pessoas emocionadas com
a generosidade e sensibilidade da professora em legitimar os sentimentos da
criança. “Não imaginava toda esta repercussão. Tenho recebido comentários,
testemunhos de pessoas de várias partes do país e até do exterior. Mães viúvas
comentaram que ficaram emocionadas e choraram a dor da saudade do marido/pai
com seus filhos. Pessoas que perderam os pais ainda crianças relataram a
tristeza e constrangimento de ter que participar de apresentações e
confeccionar lembranças para alguém que não estava presente. Professoras confessaram
que presas a certos moldes pedagógicos não haviam pensado nesta possibilidade”,
exemplificou a educadora infantil.
Segundo Débora, a iniciativa também recebeu elogios de colegas de
trabalho, pais de outros alunos e gratidão da mãe da estudante, que reforçou o
vínculo entre a educadora e a menina. “A mãe da Ana ficou muito emocionada,
disse que não tinha palavras para nos agradecer, pois a filha tinha uma relação
muito bonita com o pai e ainda fala muito nele. Quando soltei o balão com o
desenho representando ela com o pai, a Ana ficou preocupada se os anjinhos não
iriam pegá-lo. Toda vez que assiste ao vídeo ela comenta que estamos lindas. Ao
conversar com a mãe descobri o nome de um carinho que ela faz sempre no meu
rosto”, confessa emocionada a professora.
Graduada em Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pós-graduanda em Psicopedagogia, a jovem de 24 anos foi inspirada por algumas professoras que fizeram a diferença na vida dela e a influenciaram na escolha da profissão. “Quando pequena olhava para elas e dizia para mim mesma – como são inteligentes. Quero ser igual a elas quando crescer. Ao longo da minha formação tive mestres maravilhosos, que mais do que a transmissão do conhecimento, também se preocuparam com uma formação humanista, me ensinando lições valiosas para toda a vida. Acredito que o amor é a base de tudo. A escola deve ser o lugar do acolhimento das diferenças. Respeitar a individualidade, a história de cada aluno é fundamental para a formação de um ser humano equilibrado emocionalmente, sendo assim capaz de se desenvolver e aprender”, reflete a educadora infantil.
Confira o vídeo na íntegra:
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