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Publicado em: 18/08/2011 10:54

É preciso educar pelo exemplo


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É preciso educar pelo exemplo É preciso educar pelo exemplo

 

Confira entrevista com Luciano Betiate, ex-conselheiro tutelar e consultor dos direitos da criança e do adolescente em Ibiporã, sobre os limites que precisam ser ensinados aos filhos. Ele deu uma palestra no sábado (20) durante o o 2º Encontro da Família Ibiporaense, promovido pela APMIF (Associação de Proteção à Maternidade, Infância e Família de Ibiporã. O evento abriu a Semana da Família, que prossegue até 20 de agosto.


Considerando as mudanças pelas quais a sociedade vem passando, quais valores a família precisa resgatar?

Betiate - Primeiro é preciso reconhecer que o mundo mudou, evoluiu, os costumes e conceitos mudaram, a criança mudou. Mas tem coisa que nunca vai mudar, que é a relação pais e filhos, a questão hierárquica. Tem quem manda e tem quem obedece. Papai e mamãe mandam. Filhos obedecem. E hoje, como antigamente, ainda há muita dúvida de como educar os filhos, para fazer com que eles se tornem independentes, autônomos, mas ao mesmo tempo carregando a marca da obediência aos pais. Parece que se perdeu esse conceito, essa referência dos papéis dentro de casa. Eu quero criar meu filho de forma autônoma para que ele se torne uma pessoa corajosa, que vá em frente, mas que não perca a referência. O foco principal da palestra é a convivência dentro da família, essa relação pais e filhos, que pode ocorrer da forma mais harmoniosa possível. E digo que é possível educar sem violência.


Você quer dizer educar sem bater?

No ano passado a mídia divulgou que no Congresso Nacional está tramitando uma lei que pretende punir toda forma de violência com fim pedagógico. Os pais se apavoraram, como se a partir de agora não pudessem mais educar seus filhos. Acredito que são pais que acham que não dá para educar sem usar a força, sem o uso da palmada. Quando, na realidade, o que dá resultado é educar pelo exemplo. Essa é a educação que funciona, quando o pai dá exemplo de conduta cidadã, de valores éticos e morais. Sempre cito o exemplo do meu pai, Eurides Betiate, que nunca chegou em casa contente por ter obtido lucro, dando prejuízo para alguém. Essa conduta ética me educou. Nunca vi meu pai brigar com a minha mãe verbalmente, e muito menos fisicamente. Educar pelo exemplo é muito mais eficaz, embora seja mais difícil.

 

Pode-se afirmar que o filho que tem exemplo e recebe amor dentro de casa tem menos propensão às influências negativas do meio externo, que é o que preocupa hoje os pais?

Betiate - O filho que vê a violência acontecendo dentro de casa, vai olhar a violência de fora, do filme, da mídia, do game, como um habitat comum das pessoas. Vai pensar que viver violência é algo comum. Já se ele vive numa família onde há amor e onde há informação para saber diferenciar o que é entretenimento, o que é mídia, o que é apenas um jogo e não aplicar isso no seu dia-a-dia, a chance disso (violência) acontecer é muito menor.


Falta limites para os filhos?

Betiate - Falta os pais cumprirem o seu papel. Lembro que o meu pai era sábio e a minha mãe, inteligente. Eram posturas diferentes, mas nunca discordavam na nossa frente. Quando meu dizia "não", era um não absoluto e ele se mantinha firme. Não adiantava a gente querer pedir para a mãe que não ganhávamos no choro. A gente ir dormir soluçando, mas dormia. O "não" nos ensina a saber lidar com a frustração. Eu tenho pena dessa geração que está crescendo sem aprender a lidar com a frustração. O "não" nos frustra na infância. Mas hoje quando a vida me diz "não" é mais fácil eu trabalhar essa questão e buscar outra saída. E como vai ser essa geração que está ouvindo "não". Os seus filhos, netos. O que vai ser deles? É importante frisar que o não é tão importante na educação como o sim.